
Se você acha que aquele vídeo do filhote de pato tropeçando só serve para dar risada, pense de novo. De acordo com uma pesquisa compartilhada pela revista Oxford Academic (e que você pode ler na íntegra neste lin), compartilhar conteúdos de animais fofos vai muito além da diversão: essa prática cotidiana tem um papel fundamental na manutenção de relações interpessoais no mundo digital.
Segundo os autores, o compartilhamento de vídeos, memes e fotos de bichos ajuda a criar o que chamam de “redes afetivas digitais”, circuitos de emoções onde cada clique, curtida ou encaminhamento reforça laços sociais. A imagem de um cachorrinho desengonçado ou de um hipopótamo carismático pode funcionar como uma “pedrinha digital” — expressão inspirada nos pinguins que oferecem pedras aos parceiros como prova de afeto.
“É uma forma de carinho, de manter contato e dizer ‘pensei em você’, só que em versão digital”, afirma a pesquisadora Zeynep Arsel, coautora do estudo.
Emoção em três atos: como o conteúdo viaja
A equipe entrevistou 33 pessoas, entre criadores e consumidores de conteúdo animal, e mapeou o trajeto emocional de uma simples postagem de bicho: da criação à viralização.
1. "Indexicalização": é quando o conteúdo nasce, geralmente vinculado a um momento afetuoso, como o hipopótamo Moo Deng, que viralizou após vídeos em que ele mastiga brincando os tratadores no zoológico da Tailândia.
2. "Reindexicalização": quando quem compartilha o conteúdo insere a própria intenção emocional. Um exemplo? Mandar o vídeo do Moo Deng para um amigo na terça-feira com a legenda “nós tentando sobreviver à semana”.
3. "Descontextualização": é o momento em que a mensagem original se perde e o conteúdo se transforma em algo amplamente identificável, como um meme genérico. A emoção permanece, mas agora para uma audiência bem maior.
Esse ciclo cria uma espécie de “ecossistema emocional”, em que os bichinhos funcionam como "lubrificantes sociais digitais", ajudando a manter amizades, estreitar laços familiares e até alimentar relações parasociais (aquelas com influenciadores ou personagens que seguimos, mas que não conhecemos pessoalmente).
Muito além da fofura
A pesquisa sugere que, nesse cenário, os animais são mais do que protagonistas: são mediadores de emoções humanas. E isso pode explicar por que seguimos compartilhando compulsivamente essas imagens: elas nos fazem sentir conectados.
“Não se trata apenas de achar um animal engraçado ou bonitinho. É sobre como isso nos faz sentir, e como queremos que os outros se sintam também”, destaca Ghalia Shamayleh, coautora do estudo.
O fenômeno, claro, não se limita aos bichos. A lógica se aplica a qualquer conteúdo digital carregado de afeto desde memes até vídeos de aniversários e desabafos. Mas os animais, com sua espontaneidade e carisma natural, continuam sendo os grandes embaixadores dessa linguagem universal da emoção.